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Capítulo 4.3 em construção...
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terça-feira, 18 de maio de 2010

4.3 Ratos de Laboratório

 Akane Granger tinha chego a São Paulo há dois dias, e não custou-lhe muito achar um lugar para morar: Conhecia um pessoal que dividia um apartamento e foi morar com eles. Ao todo eram seis: Três garotas, contando com ela, e dois garotos, mais o gato de estimação chamado Butler. Todos eram estudantes (exceto o gato), cursando alguma faculdade ou curso técnico, e Akane, abandonando sua juventude "marginal" de ladra de pé-rapados, ou melhor, alcançando um certo nível de maturidade, decidiu que era hora de levar sua vida acadêmica a sério. Por isso foi a São Paulo, estava pensando em psicologia, que, é uma ciência instigante.
Na verdade - pensava em seu intimo - estou aqui por uma razão maior.
Sentiu um chamado, sim, e pensou que tivesse algo a ver com os acontecimentos estranhos que tem ocorrido nas noites sem lua.
De qualquer forma, era hora de voltar a estudar  - que saco - os vestibulares de inverno estavam chegando.
Julia entrou e percebeu que Akane não tinha saído da mesma página em que estava 15 minutos atrás, e riu.
- Nossa, hoje, com esse friozinho, tá horrivel de estudar né?
- Nem me fale... - Encolheu-se no seu casaco
- Ahn... Por acaso... Você tá vendo algum bico?
- Ah sim - Mal tinha tido tempo para pensar nisso, as noites de lua nova faziam com que os dias fossem doloridos e cansativos. - To vendo, antes só quero me adaptar... Sabe?
- Pode crer. - Julia sorriu, depois saiu do quarto.
Eram 15h, estava nublado e uma garoa fininha gelava o ar. Akane deciciu dar uma volta na quadra, respirar o ar puro - cof cof - lá de fora.
Talvez um emprego numa lanchonete ou num bar fosse um bom começo. Já daria pra ajudar com as contas do ap. E as inscrições pros vestibulares. 

O homem parrudo soltou Mikael.
- Tá solto é? - um pouco desconfiado
- Sim, tá fazendo um rangido chato quando deito.
- Hm, então vou dar uma olhada lá. - O homem estendeu a mão, pedindo a faca de volta. Mikael devolveu.
- Ah, sim, eu gostaria de fechar minha conta, tenho que ir embora...
O homem voltou a encará-lo.
- Mesmo? Se você vai embora, por que queria consertar a cama?
Mikael ficou sem respostas, percebeu que o homem colocava a mão no cinto na parte das costas, será que ele tinha uma arma?
Um pouco gaguejante, Mikael tentou se explicar:
- N-não, não! Eu queria arrumar, mas depois de você ter posto as mãos em mim daquele jeito, me xingado e tal, eu fiquei ofendido! E agora o senhor tá me dizendo que eu tava roubando aquela faca pra outra coisa? Como pode?! - e continuou reclamando, reclamando, o homem, confuso e envergonhado, pediu gentilmente para ele se acalmar, pedindo desculpas e oferecendo beneficios como um quarto individual, dois travesseiros, desconto, etc. Mas Mikael só queria saber de sair dali, e, nervoso e agitado, fechou sua conta.
Quando saiu, sentiu um imenso alívio. E ainda se sentia inseguro.

Talita deu três toques na porta antes de destrancá-la e encontrar Dionísio lá dentro.
- Quem é você? - perguntou ele, assustado.
- Ah, claro, vou me reapresentar. Sou Talita, nos conhecemos ontem, de um jeito muito peculiar, lembra-se?
Claro que ele lembrava. Mas essa mulher é aquele monstro?
- Sim, é tudo muito estranho, não?  Me desculpe por ter que trancar a porta, não queria que você... Fosse embora antes de eu chegar. - Sorriu - Por favor, me acompanhe.
Eles saíram do quarto e atravessaram um corredor claro e largo. A luz do dia entrava suavemente pelas janelas.
- Quero que você conheça o rapaz que te atacou ontem. Acredite, ee não fez aquilo por mal. Assim como  - parou diante de uma porta e olhou para Dionísio - você não ter matado algumas pessoas anos atrás por mal.
Dionísio sentiu a espinha gelar quando ouviu essas palavras dela. Era verdade, mas também era segredo.
- Por acaso - ele riu modestamente - eu tenho sido observado?
Talita concordou não verbalmente, e abriu a porta.
Dava para um quarto que possuia correntes nas paredes, mas que não tinha um aspecto de masmorra. Acorrentado e sentado no chão, um rapaz de cabelos negros compridos, sem a camisa. Ele olhou ofegante para os que entraram.
- Este é Jacques. Jacques, este é Dionísio, ele é como você. 
O rapaz acorrentado não disse nada. Parecia fraco e cansado.
- O que ele tem?
- Nada, eu apenas injetei uma substância que faz ele se transformar.
- Pra que isso?! - Para Dionísio isso era um tipo de tortura.
- Calma, ele vai ficar bem. E eu só quero ajuda-lo. Claro que, antes, eu tenho que  saber como ele é.
Nisso os olhos de Jacques ficaram vivos, a pupila extremamente contraída e a íris amarelada. Seus caninos começaram a crescer e seu corpo tremia enquanto os pelos cresciam. Dionísio ficou estupefato, e mais ainda quando os ossos do rapaz começaram a estalar e sua estrutura física mudou - aumentou!
Em pouco menos de um minuto, uma criatura furiosa surgiu na frente deles. Dionísio sentiu medo. Como é que aquelas simples correntes aguentavam aquele monstro?
- Ele não vai conseguir nos ferir. - disse Talita, calmamente.
- Espero que não.
Jacques, sem consicencia do que estava fazendo, tentava se soltar daquelas amarras e pegar os dois, sem sucesso.
- Veja. Sem racionalidade. É assim no começo. Foi assim com você também, Dionísio.
- Eu sei. E me lembro bem.
- Meu objetivo é fazer com que esse jovem aprenda a dominar essa transformação. O mais rápido possível. Também quero trabalhar isso com você. E quero que você me ajude com os outros que virão.



segunda-feira, 10 de maio de 2010

4.2 Ratos de Laboratório

- Oh - disse Talita, se afastando com a seringa - desculpe, Jacques, não queria te assustar. Estou com a cabeça tão cheia de coisas que esqueci de te dizer o que é isso - olhou para a seringa.
- E o que é? E o que é tudo isso? - Jacques se levantava da cama
- Por favor, fique aí, vou te explicar tudo. Isso aqui é um composto que vai te estimular a se transformar novamente.
- T-transformar? - Jacques estava confuso, não sabia nada de transformações. O que sabia era que as vezes tinha blecautes e acordava em um lugar diferente e com as roupas sujas.
- Você não sabe então... - Talita deixou a seringa de lado e se sentou numa poltrona de couro que tinha em um canto. - Por favor, sente-se também - Apontando para a outra poltrona.

Mikael não encontrou nada na internet que falasse sobre o endereço de Talita. E muito menos sobre ela, já que Mikael não fazia idéia de seu sobrenome e etc. "Mas vou descobrir"
Enquanto pagava sua hora no balcão um sujeito conhecido entrou.
- Mikael, certo? - disse ele, era Ricardo
- Ah, você - apertaram as mãos.
- Então. Surreal, não é?
- Sim, essa deve ser a melhor definição.
- Acredito que você também foi chamado para estar lá de volta.
- Sim. Você também? Então talvez a gente possa ir junto, rachar um taxi...
- Claro, é uma boa idéia. Vou anotar o telefone do lugar onde estou - escreveu em um cartão da lan house que tinha ali no balcão o número da pensão - Me ligue depois. Agora tenho trabalho a fazer.
Os dois se despediram, Mikael saiu e Ricardo foi para um computador no canto. Pesquisou uma forma de enviar o login e senha de seu email para seus familiares caso não o acessasse em duas semanas. Achou alguma coisa parecida, mas não parecia funcionar. Ficou lá durante duas horas tentando, e desistiu. Que programa confuso. Ou então estava com defeito mesmo. Talvez até tivesse conseguido fazer funcionar... Mas não tinha como testar.
Além dele, tinha apenas um jovem rapaz de cabelos pretos enrolados, que a cada instante olhava para Ricardo. Este prefiriu fingir que não tinha percebido. Pensou rapidamente "pode ser um ex-aluno que o reconheceu" E não era muito legal ser reconhecido e lembrado pelos incidentes do passado. Então tratou logo de sair dali. Nem percebeu quando o rapaz se dirigia ao computador onde ele estava.

Dionísio esperava no quarto. Nem sabia o que esperava, e isso o deixava ansioso. Bisbilhotou mais um pouco o quarto, e começou a escutar um toque de telefone. Era o seu celular! Seguiu o som, e encontrou em uma gaveta de uma comoda as suas roupas e o celular no bolso da calça. No visor aparecia: Virginia
Ah meu deus. - Atendeu - Alo!
- Dionísio? Até que enfim você atendeu! - Ela ria - Mas o que houve? Eu te liguei várias vezes!
- Virginia, tudo bem? É que eu tinha perdido o celular, descobri que tinha deixado da universidade...
- Ah tá. E o que tá achando de Sampa?
- Bem interessante morar aqui, mas esse friozinho é sacana hehe
- Pois é né. Olha, eu acabei tendo uma mudança nos meus planos e estou voltando hoje a noite. Será que você gostaria de dar uma volta e conhecer meu bar favorito?
Dionísio parou um pouco.
- Sabe o que é? Não posso essa noite... E você não vai estar cansada da viagem?
- Cansada? Nem. Mas se você não pode então tá...
- Mas a gente marca pra outro dia, prometo! - Imagine que Dionísio iria perder a oportunidade de conhece-la... 
- Aham, sei! To achando que você já tem uma garota aí, isso sim! - Disse brincando.
Depois de mais umas palavras, a bateria do celular acabou.
- Merda. E como sair daqui?

Talita contou para Jacques sobre a condição dele.
- E há quanto tempo isso tem acontecido?
- Não sei... Uns quatro meses.
Era de se esperar. Ele ainda estava no começo, por isso era mais agressivo e os sintomas pós-transformação eram mais intensos.
- E por que você quer injetar essa merda em mim? Pra eu me transformar é?
- Preciso testar você. É o que faremos nos próximos dias, para que você possa lidar com essa licantropia sem ter essas dores, esse cansaço, os pesadelos... E que possa saber quem você é quando se transformar.
Jacques por fim concordou com aquilo. Talvez essa mulher fosse sua única esperança. Observou o êmbolo da seringa empurrando o liquido para dentro de seu braço, dois minutos depois, sua visão ficava turva e a consciencia desaparecia.
Um homem robusto de óculos entrou no quarto.
- Silas, tome conta dele. Vai levar meia hora para que a injeção chegue a seu ápice. Enquanto isso vou dar uma olhada no outro.
Terminou de arrumar sua mochila. Ainda precisava de um tipo de arma, uma faca. Poderia roubar de alguém ali no quarto, mas não com a presença de pessoas. Um sujeito escutava musica e "lia" uma PlayBoy em sua cama. Então Mikael foi para a cozinha da pensão. Sorrateiramente, entrou e pegou uma faca afiada sem que a mulher que lavava louça percebesse.
Mas quando se virou para sair, o dono da pensão, um homem parrudo de cenho franzido, segurou a gola de sua blusa.
- Ladrãozinho de merda!

quarta-feira, 5 de maio de 2010

4.1 Ratos de laboratório

Dionísio desperta, com dores no corpo inteiro. Está sozinho em uma sala clara e arejada. Seria um hospital? Como foi parar ali. Lembrou-se do que aconteceu na noite anterior e demorou alguns minutos para assimilar tudo. Será que tinha sido carregado até ali por aquela criatura? Descobriu-se do edredom verde oliva e saiu da cama. Logo percebeu que estava com uma camisola lisa, sem estampas de qualquer hospital.
Vai até a sacada, que é pequena, totalmente gradeada, com uma vista para pequenos prédios residenciais. Pelo que percebe, está no segundo andar de uma casa. E aquele pequeno jardim deve ser os fundos do terreno.
Seu estômago ronca. Volta para dentro do quarto, dá uma bisbilhotada, no armário vazio (apenas com pastilhas de naftalina e roupa de cama), no pequeno banheiro, limpo e cheiroso, e por fim no criado mudo, onde encontra seus documentos e cartões, sem a carteira.

Ricardo acorda em seu quarto na pensão. O sol já está alto. Como foi parar ali? Levantou-se, e não sentiu muita dor de cabeça, mas sim uma incrivel moleza. Foi até o banheiro, lavou o rosto. Nisso, seu colega de quarto entrou. Ricaro nem tenta ganhar simpatia, apenas cumprimenta-o de leve.
Inexperavelmente, é o fortão quem fala:
- Tomou todas hein? Cê tá com uma cara de merda.
- Ah - Ricardo demora um pouco para responder - Pois é. Manoel... certo?
O homem apenas lhe lançou um olhar.
- Sabe me dizer... Como é que eu cheguei aqui ontem? - riu com certa carisma
Manoel deu de ombros:
- Não passei a noite aqui.
Depois disso foi embora. Ricardo foi novamente para o banheiro para tomar um banho. Como de costume, vasculhou os bolsos da calça e casaco antes de tira-los. Carteira, moedas soltas, outros objetos insignificantes... E um papel amarelo dobrado. Abriu-o: "Volte para minha casa antes do anoitecer. De preferencia, traga seus pertences. Talita"
Ok. Era de se esperar. Mas antes de qualquer coisa, melhor tomar um café da manhã/almoço... E antes disso tomar um banho.


Dois rapazes barulhentos entrando no quarto da pensão, e interrompem o sono de Mikael
- Ô mano, foi mal ae.
Suspira, esfrega os olhos. Como aquela mulher conseguiu trazer ele até ali? Ah claro, ela tem ajudantes.
Está com as mesmas roupas da noite passada, é bom tomar banho... Mas está morrendo de fome, então decide procurar alguma padaria ou bar. Ao se levantar, sente seu corpo pesado e tonto. Tudo bem, menos pior do que aquelas dores de cabeça do inferno. Ao sair do quarto, tomba e tropeça nos moveis pelos quais passa. 
- Cê tá bem? - pergunta um dos caras que está por ali
- To sim. - Mikael sacode a cabeça. Melhor se concentrar a cada passo.
Sai para a rua, tem sol, mas está frio e ventando um pouco. Por estar no centro, a sombra dos edificios apenas esfria mais ainda os corpos transeuntes.
Encolhe-se no seu casaco e mete as mãos nos bolsos. E encontra um bilhete. Talita dizendo para que ele volte lá e leve suas coisas. Será que ela tá querendo dizer que vai me hospedar? Um pensamento que passou rapidamente pela sua cabeça.
Botou o bilhete no bolso e entrou numa lanchonete.

Jacques abre os olhos, o corpo inteiro dói, principalmente a cabeça, que lateja como se tivesse sido atingida por uma bigorna. Onde estou? Tudo está confuso. Não se lembra do que aconteceu na ultima noite... Será que aconteceu de novo? Com os olhos cerrados pela claridade e o corpo letárgico, verifica se suas vestes estão cobertas de sangue, como nas outras vezes. E percebe que não está com suas roupas, mas com uma camisola branca. De repente, tudo fica claro em sua mente:
Me pegaram!
O jovem estudante havia fugido de Foz do Iguaçu por medo de estar sendo investigado pela policia, em decorrencia dos eventos que tem acontecido em sua vida, como roupas ensanguentadas (que Jacques queimou antes que os oficiais apreendessem como evidencia) e falta de álibis convincentes. Mas agora estava ali. Naquele lugar estranho, a um passo do interrogatório e dois da prisão.
- Levante-se. - disse uma voz feminina que pelo jeito já estava ali desde que ele tinha acordado.
Jacques levantou-se levemente para ver a mulher.
Ela sorriu.
- Oi. Meu nome é Talita. Você deve ter um nome também.
- J-Jacques... Pompadeur.
- Hm... Francês. - desencostou-se da mesa onde estava apoiada e andou em direção ao jovem.
- Creio que você não se lembra do que aconteceu na noite passada. - ele realmente não lembrava.
- Mas faço ideia.
Talita olhou bem para ele.
- E isso... que tem acontecido com você... tem te incomodado?
- Bem - começou rindo, mas logo uma sensação de desgosto o invadiu. - Perdi minha familia, meus estudos, minha vida. - Terminou por aí, antes que aumentasse a vontade de chorar.
- Vou te ajudar a lidar com isso. - Foi até a mesa onde estava antes, onde haviam alguns objetos depositados.
Então Jacques sentiu uma pitada de raiva. O que aquela mulher sabia sobre o que estava acontecendo?
- Quem é você? - perguntou, agressivo.
- Já me apresentei. E já disse que estou disposta a te ajudar. - Virou-se para ele novamente, com uma seringa na mão - Não precisa se preocupar...

terça-feira, 4 de maio de 2010

3.3 Caça Noturna

Dica: Para ter uma idéia do que é o parque Alfredo Volpi, chequem esta pagina do Flickr que eu achei: http://www.flickr.com/photos/carloscastejon/sets/72157621803519684/

A brisa gelada traz consigo o cheiro da presa. O silêncio evidencia sua presença. Talita sente que ele está perto, e que já sabe que eles estão ali. Ouve o grunhido de Mikael e Ricardo tentando arrancar uma lixeira pública do lugar.
- Vocês não estão sendo nem um pouco cidadãos... 
Eles imediatamente param, Mikael fica irritado.
- O que quer que a gente faça então, señora?
Ela olha para os lados e aponta para um tronco de árvore não muito grande caído no chão.
- Isso não vai me aguentar! - replica Ricardo.
- Vai ter que aguentar. - diz Mikael, indo pegar o tronco.
Enfim, eles conseguem passar, Mikael sustentando a viga com o próprio corpo enquanto Ricardo passa.
Ouvem uma espécie de uivo. Ou rugido. Ou alguém os alertando a sair dali.
- O que é isso?
- É o nosso amigo - responde Talita enquanto caminham pela trilha escura. Está muito difícil de enxergar, mas ela consegue se locomover como se estivesse de dia. - Ele está meio confuso. Já viram um cão com raiva?
- Não será necessário ter uma arma? - Pergunta Ricardo
- Talvez. Vocês tem uma não é? - os dois se entreolham. - Silêncio.
Talita pára e volta sua completa atenção para o que está ao redor.
- Não é possível. - sussurra. - São dois. - Ela passa um tempo pensando, analisando o que está acontecendo. - Fiquem aqui. Eu vou ver o que está acontecendo.
Antes que eles pudessem dizer qualquer coisa, ela desaparece na escuridão.
- Porra!

Dionísio recobra um pouco de sua consiencia. Parece um sonho. Um pesadelo? Sente um cheiro muito forte. Tem a sensação de estar flututando, cambaleante. A mente confusa e cheia de desejo de destruição. Ouve barulhos muito sutis e muito altos, até as folhas das árvores fazem mais barulho do que o habitual. Onde está? Percebe que é um bosque, e está de noite. O cheiro está mais forte, algo ou alguém se aproxima. Dionísio se levanta e - que alto! Mas o que é isso? Está em outro corpo, não é ele mesmo! Tem pelo menos 2 metros de altura, robusto e coberto de pêlos! Perdido nessas surpresas, recebeu outra quando uma criatura surgiu da mata e o agarrou com ferocidade.
Que diabos?! Não conseguia se livrar dessa criatura, que atacava-o como um tigre endemoninhado sedento por sangue. Surreal, seu aspecto era como de um lobisomem, a diferença é que tinha listras pardas e negras em algumas regiões do corpo. Dionísio não tinha a capacidade de se defender de todos aqueles ataques, mas também conseguia atacar. Só não tinha como saber se seus ataques eram efetivos. Pego de surpresa novamente, a fera salta sobre ele e o derruba no chão, sem defesas. Porém, ela pára por um segundo e olha em outra direção. Dos matos escuros, salta outra fera e ataca a primeira, salvando a vida de Dionísio. Este tenta se levantar para fugir, seu corpo dói, se é que pode chamar aquele corpo de "seu". Quando finalmente consegue se levantar, salta na sua frente a segunda criatura, que supostamente o salvou.
Encara-o com os olhos amarelos e sanguinários. Um frio corre pela espinha de Dionísio. De repente a criatura fica ereta e grunhe alguma coisa, que, incrivelmente, ele consegue entender como:
- Então você é Dionísio. Eu sou Talita, e sou como você.
Ele recua. Aquilo não pode estar acontecendo! Um sonho, algum tipo de efeito psicotrópico, mas...
- Não fique com medo. Ao invés disso, me ajude a carregar esse indivíduo que o atacou. - e vai até o tal individuo, que está caído no chão, inconsciente.
Dionísio arrisca pronunciar alguma coisa.
- Grugrrrrnh...
- O que?
- Grr. Eu...
- Calma... Vai demorar um pouco pra você se acostumar... Digo, na verdade você está indo muito bem. Conseguiu ficar consciente enquanto transformado.
Então Talita tira algo do bolso de sua calça - ou o que restou dela - e anda novamente na direção de Dionísio, dizendo:
- Mas, pensando bem... Você pode perder o controle a qualquer momento - E espeta no pescoço dele algo que mais parecia uma caneta do que uma seringa.
Imediatamente, Dionísio cai inconsciente.


A cada ruído estranho, Mikael e Ricardo se olhavam. Aquilo era tudo muito estranho. E, embora fossem machos, era de arrepiar também.
- Por que merda nesse mundo a Talita deixou a gente aqui? - reclamou Mikael, com cuidado pra sua voz não se projetar.
- Talvez ela tenha pensado que a gente tinha uma arma...
- Então... O que você faz da vida?

Algum tempo depois, Talita apareceu.
- Desculpem a demora...
- Caralho, que susto! - Mikael já se levantava, pronto para reclamar, e então percebeu que as roupas dela estavam como trapos.
- O que aconteceu? - perguntou Ricardo
- Nada de mais, mas vou precisar da ajuda de vocês.
Caminharam um pouco até chegarem na clareira onde tinha acontecido o embate. Duas feras estavam inconscientes no chão.
Ricardo e Mikael se surpreenderam.
- Estes são os rapazes que eu encontrei aqui. Esse é Dionísio. - apontou para o que era um pouco maior - e o outro eu não sei... Mas deve ser bem jovem, porque estava totalmente fora de si quando o encontrei.
- O-o que vamos fazer? - perguntou Mikael
- Eles estão desmaiados? E desamarrados?
- Estão fortemente sedados. Apenas trouxe vocês aqui para dar uma aula didática. Já que perderam toda a ação... - sorriu. - Vocês são assim também. Vocês também se transformam em animais selvagens e sanguinários. Hoje, felizmente, vocês vieram me procurar, embora sem saber o que procuravam, e eu pude ajudar a mante-los... sóbrios - riu com a analogia - com aquele chazinho mágico. Mas não posso ficar dopando-os com isso sempre. Vão ter que aprender a lidar com essa licantropia. E esses dois aqui também.
Andou entre eles, os dois lobos listrados caídos no chão. Tanto Ricardo quanto Mikael estavam se conscientizando de que era importante dar ouvidos a essa mulher misteriosa, Talita. Ela sabia mais sobre o que acontecia com eles do que eles mesmos, e talvez pudesse ajudá-los a dominar essa fera interior.
- Bem... O efeito do chá não vai durar mais muito tempo. E a caçada dessa noite já foi bem intensa, então... - fez um sinal com as duas mãos, e Ricardo e Mikael, ao mesmo tempo, sentiram mãos tocando seus ombros, mas não conseguiram se virar para ver, caíram no sono.

sábado, 1 de maio de 2010

3.2 Caça Noturna

Ricardo olha pra Mikael.
- Que foi? - diz o jovem, mesmo estando tão confuso e ansioso quanto Ricardo.
Mikael se levanta e olha para a sala no geral.
Talita entra em passos rápidos.
- Vamos nessa, temos um assunto urgente, explico a vocês no caminho - pega o casaco que está na poltrona - Vamos!
Sem saber muito o que fazer, os dois acompanham seus passos até a garagem. Talita desliga o alarme do Astra preto e diz aos dois para entrarem.
- Mas o que está acontecendo? - Pergunta Mikael, ansioso
- Um dos nossos está fora de controle. Vamos buscá-lo.
Ricardo entra primeiro e se acomoda no banco traseiro. Mikael ousa sentar no da frente.
Sem demora, abre-se o portão da garagem e o Astra voa até o centro.
No caminho, ela explica:
- Eu chamei vocês até aqui, digo, São Paulo, para que acidentes não ocorram mais. Era para todos estarem aqui antes dessa noite, mas... tsc - Interrompeu sua fala enquanto furava um sinal vermelho, tendo que desviar de dois carros - Enfim. Nosso colega, Dionísio, não veio e agora está a solta, aos arredores do parque Alfredo Volpi... Na verdade, ele deve estar exatamente lá, pelo que eu... - Interrompeu novamente ao fazer uma curva brusca para evitar um acidente, novamente, ao cruzar um sinal vermelho.
- Seria possivel ir com mais calma, senhora? - Pergunta Ricardo, assustado
- Não, Ricardo, e eu admiro seu respeito, mas não me chame de senhora.
De fato, Talita dirigia com habilidade e precisão.
Após mais alguns minutos de adrenalina, Talita passa a diminuir a velocidade.
- Quero que vocês me acompanhem, mas não façam nada, apenas observem. Afinal, vocês nunca viram um Slachten, certo? - sorriu - Apesar de o serem.
Estacionaram em um local estratégico, onde o carro ficava bem escondido. Naquela hora da noite não havia quase nada de movimento por ali, pelo menos na região onde eles se encontravam.
 Uma brisa úmida gelava os pescoços. Talita, apesar de seus aparentes 45 anos, escalou a cerca e saltou.
- Venham.
Ricardo olhou para Mikael, a fim de saber se ele tinha algum "plano", mas antes que pudesse perguntar qualquer coisa, o jovem já corria para a cerca, a qual saltou sem dificuldades.
Ricardo se aproximou deles, espantado.
- M-mas... Como assim?!
Talita olhou para Mikael e fez sinal para que ele subisse na cerca para ajudar Ricardo.
Aquela cerca de ferro, fina e pontiaguda, uma tarefa arriscada.
- Por favor - disse Talita - não danifiquem a cerca, isso seria falta de cidadania, rapazes.


quarta-feira, 28 de abril de 2010

3.1 Caça Noturna

- Olá Mikael. - voltou-se para o velho Pardal, agradeceu e ele foi embora.
Por um momento, Mikael se sentiu receoso por ser "abandonado" pelo Pardal, ali, com aquela mulher quarentona e rica que ele nunca tinha visto na vida.
- Eu sou Talita! Pode deixar seu casaco aí - apontou para um cabideiro atrás da porta de entrada. - Vamos até a sala de estar, é mais confortável para conversarmos.
Uma casa bonita por fora e por dentro. Será que ela mora sozinha aqui? Nisso, chegaram à sala, onde um homem, Ricardo, admirava a arquitetura e decoração.
- Ricardo e Mikael, eu vos apresento um ao outro. Vocês tem muita coisa em comum, a começar pelo Rio de Janeiro, de onde os dois vieram.
Os dois ficaram confusos, nenhum sabia direito por que estavam ali, e um pensava que o outro tinha mais conhecimento do que estava acontecendo. Talita rompeu o silencio.
- Ok. Vou ser bem direta. Vocês dois são... Licântropos, digamos, e sofrem os mesmos sintomas nas noites de lua nova.
- Ahn... Lobisomens? - os dois se perguntaram juntos, mas foi Ricardo quem verbalizou.
- Não. - Talita endureceu o olhar, estava menos simpática e mais séria agora - Não lobos. Somos uma espécie diferente.
- Somos?! - Perguntou Mikael - Então você também é?! E o velho e o homem negro também!
- Não se precipitem. - suspirou e esperou alguns segundos - Certo? Não se precipitem. Eu vou explicar primeiro. Sentem.
Ricardo se sentou no mesmo sofá que estava antes, de três lugares. Mikael ficou em uma poltrona de couro marrom, e Talita andou três passos para um lado e depois para o outro, pensativa, antes de se sentar na poltrona maior, de cor de vinho.
- Pardal e Roberto não são licântropos. Mas também não são gente comum, eles são de uma espécie de classe inferior, que há muito tempo tem servido... a nós. - olhou para eles já esperando vir a pergunta sobre "quem somos nós".
- Nós somos uma espécie poderosa que há séculos têm se escondido em meio a "humanidade", as pessoas comuns. Isso porque concordamos em não mais causar desordem e mortes desnecessárias. - Levantou-se da poltrona e caminhou até um quadro que representava um vilarejo no campo, incendiado e abandonado - Nós somos Slachtens, da tribo Nekot. Da antiga tribo Nekot. E essas palavras são do idioma Lugha, que quase ninguém conhece. Nem mesmo é encontrado nos livros - virou-se para eles, rindo, e voltou a se sentar.
- Literalmente, Slachten quer dizer "besta", e Nekot, "leste". Somos as bestas do leste! Eu, na verdade, apenas eu. Eu sou uma Slachten pura, nasci de um casal de Slachtens, meus ancestrais todos são Slachtens. Vocês não, vocês receberam essa... esse dom. - sorriu para eles - para que pudessem me ajudar.
- Ajudar?
- Eu sou a única que sobrou dos Slachtens, depois de nossos inimigos aniquilarem quase todos nós. E eles ainda estão aí, pensando que estamos todos mortos. Mas eu estou viva, e agora estou recrutando vocês.
O celular de Talita toca, ela verifica o número, pede licença e sai da sala para atender.


2.5 Chamado

- Ta bom, a gente conversa no caminho. Tem um carro nos esperando ali na outra esquina, vamos lá que eu te respondo tudo isso...
Mikael foi, relutante. 
- Pra começar... Pode me chamar de Pardal. - sorriu - Mas eu tô mais prum galo véio - e riu escandalosamente.
Mikael apenas fez uma cara de desdém. Que idiota, por que não pode ser mais discreto?
Chagaram a um Kadett cinza. Pardal abriu a porta de passageiro, levantou o banco da frente e sentou no banco de trás. Convidou Mikael para sentar. Tinha um homem grande e negro de motorista. Ele não fez nada de mais além de olhar para o jovem sem dizer nada.
- Esse aí é o Betão. Nosso motorista, chique né? - e riu novamente.

Talita voltou à sala de visitas, onde Ricardo estava, e sentou-se na poltrona em frente a ele. Olhou diretamente para seu olhos.
- Isso tudo é muito estranho, não é? - disse séria.
Ricardo depositou sua xícara de chá na mesa de centro.
- Mas te garanto que tem uma explicação. Provavelmente não a explicação que você gostaria - sorriu de leve. Há outros como você. Eu também sou assim.
- Assim como? - de fato, Ricardo não tinha consciencia exata do que acontecia com ele - É uma doença? Sei lá, uma maldição?
- É uma herança. Você não está totalmente desenvolvido ainda, então não tem consciencia do que faz e de quem você é... Nas noites em que a lua desaparece. Como esta.
Sim, claro. Era noite de lua nova. Por que ali ele ainda não tinha perdido o controle? Ricardo fez uma cara de dúvida enquanto pensava nisso e Talita o adivinhou.
- Esse chá é feito de uma erva que reverte a ação da lua nova sobre nossos corpos. Por isso você não se transformou, aliás, não apagou enquanto está aqui. Basta inalar o aroma... - Falou isso enquanto levava sua xícara à boca para.
De fato o chá tinha alguma coisa. Mas não necessariamente algo ruim. Pensou se Talita poderia ceder uma porção dessa erva para poder curar sua... herança?
- Como assim herança?
- É uma longa história. Começou com seu avô. Ele foi contaminado e passou isso pro seu pai e de seu pai veio para você.
- Quer dizer que eles eram assim também?
- Em proporções menores... No seu avô começou forte, mas instável, no seu pai era fraco... E em você, perfeito. Por isso você foi convocado para estar aqui, e não seu pai ou seu avô.
- Contaminação? Mas... Quem são vocês?!
Por um momento, Ricardo imaginou estar em um daqueles filmes em que o mocinho está nas mãos de uma organização grande e misteriosa que faz experiências com cobaias humanas.
Talita deu risada.
- Eu sou uma só, querido.

Betão dirigia com tranquilidade. Mikael já sentia novamente ficar alterado. Pardal percebeu isso e tirou de uma bolsa um sachê.
- Sente esse cheiro. - Mikael pensou estar em uma cilada. - Vamos! Vai te acalmar. Não queremos que você nos estraçalhe aqui dentro, então cheira logo!
Mikael fez isso, e seu corpo e mente relaxaram.
- Bão. Pra começar... Sabemos o que está acontecendo com você porque a gente te vigia há algum tempo. Não TODO o tempo, não se preocupe hehehe. 
- Me vigiam?! Por quê?!
- Ah, rapaz. Porque a gente foi mandado fazê isso! Olha. Não somos maus, acredite. Estamos te levando agora pra nossa chefa, ela vai te ajudar com essas coisas que acontecem com você.
- Uma mulher é? Quem é ela, me conhece da onde?
- Eu não sei, meu fio! Pergunte pessoalmente! - e apontou pra uma casa cercada por muros altos, na qual Betão estacionou.

Talita se levantou.
- Chegaram. Já volto, Ricardo.

E enquanto isso, Dionísio, que já não era mais ele mesmo, arrancava com violência a janela do pequeno banheiro.