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Capítulo 4.3 em construção...
4 Jogadores

domingo, 11 de abril de 2010

1 São Paulo

    
    Abre a porta de seu pequeno quarto alugado de pensão e joga sua maleta sobre a mesinha em que costuma fazer suas refeições. Em seguida, desaba em sua cama desarrumada, com cuidado para que ela não desabe também. Ricardo dá um longo suspiro, olha para o teto, que parece se mover devagarinho. O efeito da droga já tá passando, e nada. Só vêm idéias tolas, nada digno para entrar em seu Romance, que ainda não passou das primeiras páginas. Aquele sensação de fracasso vem novamente, Ricardo cobre seu rosto com as mãos e esfrega os olhos. Mais um dia se acabando, mas talvez a noite ainda seja longa. Tem o pressentimento de que aquele ciclo está voltando. Vem de mês em mês. Sonolência durante o dia, pesadelos durante a noite. Impaciência e intolerancia com as pessoas, e aquelas dores de cabeça terríveis... Já sabe: durante os próximos quatro ou cinco dias, ficará trancafiado em seu quarto, isolado das pessoas energúmenas e concentrado em seu Romance. "Se as drogas não funcionam pra me inspirar, talvez esses sonhos sanguinários me deem idéias..." Fecha os olhos. O problema são as dores de cabeça, que não o deixam pensar direito.
    E então vem uma sensação diferente: parece um desejo, um senso de dever, algo dentro de si que diz que precisa sair do Rio agora e ir para a cidade mais populosa. Ora, São Paulo? Mas por quê? Tenta se desligar desses pensamentos e relaxar, mas eles voltam e voltam. Seu instinto lhe diz para ir para lá de uma vez.
 

    Enquanto isso, em um bairro pouco conceituado do Rio de Janeiro, Mikael também sente essa sensação. A vontade de ir para São Paulo. Mas para ele isso é mais corriqueiro, já está acontumado a se mudar de cidade em cidade desde que nasceu, em Buenos Aires. Não conheceu seus pais, viveu sempre em orfanatos e nunca dfoi adotado. O pior eram aqueles guris mais velhos dos orfanatos, viviam nos maltratando. Mikael, lavando os vários copos de cerveja, sorriu de leve ao se lembrar disso. Quando completou 18 anos, foi expulso do orfanato e passou a viver por conta própria. Lembrou-se dos caras que havia conhecido em Córdoba, que lhe ensinaram Le Parkour. E sorriu ao recordar daquelas alucinantes fugas, seja da polícia, seja dos bandidos.
- Mikael! - chama Seu Martins, o dono do bar - pode deixar essa louça aí e vai descansar, o Amilton termina.
- Tudo bem, já estou acabando, senhor.
Seu Martins se aproxima e empurra de leve Mikael
- Sai logo, você teve um dia cheio - e cochichou para ele - O Amilton derrubou uma garrafa no colo de uma moça, e eu quero que ele pague por isso - riu - Que vergonha!
Mikael estava no Brasil há 6 anos, e há alguns meses trabalha para Seu Martins, que, muito gentilmente, o acolheu e ofereceu um quarto nos fundos de seu boteco.Tudo ia muito bem, muito diferente daquela vida na Argentina. Porém, esse bem-estar não durou muito e aquela sensação de vazio começou a voltar. E ainda pior: Sonhos violentos, dores de cabeça e olheiras no dia seguinte. Esses sintomas passavam. E voltavam. E passavam de novo. Chegou à conclusão de que isso era um ciclo, e ficou com medo de que estivesse com alguma doença, algum disturbio...
    Entrou em seu quarto. Logo que fechou a porta, seu instinto falou consigo novamente. São Paulo. Finalmente havia encontrado uma vida estável ali, com Seu Martins e o boteco. Por que veio essa vontade tão forte de ir pra São Paulo de repente?
 

    19h, hora de voltar, Dionísio diz para si mesmo. Está fazendo sua corrida vespertina, como faz a cada três dias. Há alguns anos, descobriu como é terapêutico correr, e tem feito bom uso dessa atividade. Enquanto corre para seu apartamento, na periferia de Uberaba, lembra-se de quando sofria por causa do sobrepeso, de como seus joelhos doíam. Fechou os olhos por um instante e sentiu o vento no rosto. Esse momento foi cortado por um ciclista que passou raspando em seu cotovelo. Dionísio se assusta e xinga o homem, que por um instante perde o controle da bicicleta. Muito transito na cidade essa hora, de todo o tipo de veículo. Volta a sua corrida, praguejando, até que sente o mesmo chamado: A metropole brasileira, São Paulo. Estranho. Será que tem a ver com aquelas "coisas" que acontecem a cada 30-35 dias? Nah, não pode ser. Então lembrou-se de que era véspera de um desses dias. Na noite seguinte aconteceria tudo aquilo de novo. O bom era que ele ja estava se acostumando e as dores de cabeça não eram mais tão intensas. Na verdade, como um bom engenheiro, Dionísio estava estudando aqueles fenomenos que aconteciam consigo. Nas noites, ele não dormia, tinha blecautes. Se lembrava de pouca coisa no dia seguinte, nem sabia se tinha sido real ou sonho. Até que os noticiários confirmavam: Um assassinato similar ao que ele sonhou.
    Vai direto para o chuveiro, e aquele chamado vem de novo. São Paulo? Por quê? Não posso abandonar meu emprego na universidade sem mais nem menos. 
 

Tudo é muito confuso. Para vocês três, o que tem acontecido em suas vidas nos ultimos anos é muito confuso. Começou lá entre os 20~25 anos, de forma amena. A familia e os amigos pensavam que era depressão ou algo assim. Ficou mais intenso, e foi inevitável a separação. Sozinho parecia ser mais fácil, sem ninguém pra criticar, pra tentar resolver os problemas alheios. Por outro lado, eles estariam mais seguros longe.

E quanto a São Paulo? Vocês decidem.

3 comentários:

Molina disse...

A dor de cabeça está me enlouquecendo. Tomo um punhado de analgésicos. O médico me disse para tomar moderadamente, mas ele não estava sentindo essa dor. Caio na cama e tento tirar uma soneca. São Paulo, talvez seja isso que eu esteja precisando. Não sou compositor de Bossa Nova e não estou com vontade de escrever sobre tráfico e favelas. O Rio não tem nada para mim. São Paulo seria mais adequada ao meu temperamento. Não seria muito difícil. O dinheiro da bolsa acabou, mas os meus pais ajudarão se eu pedir. Também, eu não preciso de muito para viver. Uma cama, alguns remédios e comida de vez em quando. Vou para lá, depois. Agora preciso dormir.

walderlopes disse...

Enquanto toma banho, Dionísio pensa no que fazer. Quando termina o banho, já tem uma idéia, um plano pra agir.

O tal "chamado" que ele sente é forte, e ele acha que não deve ignorá-lo. Os crimes com os quais ele tem pesadelos são muito sangrentos, e mesmo tendo bom relacionamento com os vizinhos e colegas de trabalho, a agressividade que toma conta dele após os pesadelos também é preocupante.

Por isso ele decide ligar para alguém do Depto. de Engenharia na Universidade de São Paulo e tentar uma transferência, mesmo que temporária, como uma fachada para a viagem repentina a São Paulo.

Ele não quer ignorar essa sensação, essa vontade de estar lá.

Unknown disse...

Mikael vai até a janela e olha para o movimento na rua, tentando respirar um pouco, mas o ar não completava o vazio que estava sentindo, tudo aquilo que ele havia deixado para traz estava perseguindo ele novamente, a sensação de perseguição, talvez fosse um sentido de que algum perigo estava chegando...

Minutos depois se deu conta que tudo que estava acontecendo era apenas paranóia de sua cabeça, quem sabe o fato dele finalmente ter encontrado seu lugar o fez ficar assustado ou quem sabe, apenas quem sabe, estivesse certo... Nesse caso o que fazer? Se ficasse ali e o passado o encontrasse? Não queria causar problemas para Seu Martins e todos os outros que o acolheram tão bem depois de tanto tempo sendo rejeitado pela sociedade.

"Desculpe ir embora assim é mais facil, obrigado por me ajudar a encontrar um momento de paz e nunca perguntar sobre o porque de eu estar sempre fugindo do meu passado, pois é por causa dele que estou partindo, se um dia me ver livre dele voltarei para lavar mais uns copos e servir umas mesas.

Seu amigo, Mikael.

Ps: Se alguem vier procurar por mim é melhor que diga que nunca me conheceu."

Terminando de escrever esta carta Mikael pega sua mochila com suas roupas e o maço de dinheiro juntado de seu pequeno mas honesto salario e alguma gorjetas que guardava abaixo de seu colchão, deveria ser o suficiente para ir a São Paulo, Mikael havia saido de Buenos Aires com menos...

"Vejamos o que o destino reserva para mim em São Paulo."