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Capítulo 4.3 em construção...
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sábado, 24 de abril de 2010

2.4 Chamado

Mikael pega um taxi, diz que está com pressa.
- Ih, véi, essa viagem é daquelas, vamos chegar lá em uma horinha ou duas...
- Quê?! Faça o possível para chegarmos em uma hora no máximo.
- Pô, aí cê tá zuando comigo né? Tamo em Sampa, argentino..
- Dirige aí.
O motorista fez o possível para chegar rápido, mas, realmente, tinha bastante engarrafamento, até pelos caminhos menos utilizados. Quando deram 20h, Mikael já não se aguentava mais, pediu pra sair do táxi. O motorista disse que levaria mais uma hora e meia pra chegar, caso ele fosse andando. Que seja, pagou honestamente e caminhou até uma pequena praça que tinha logo ali.
Já estava fora do centro, e tinha bastante movimento de automóveis naquele bairro também. A praça era pequena, tinha alguns bancos e um parquinho vazio e úmido pela garoa. Alguns poucos mendigos dormiam sobre papelões e enrolados em cobertores encardidos e furados. Também duas pessoas encapuzadas que pareciam estar vendendo/comprando drogas.
Mikael sentou num banco vazio e afundou o rosto nas mãos. O que fazer? Não tem pra onde ir. Que raiva, que desprezo. Pelos mendigos e traficantes que sujam a praça. Por esse endereço idiota, pelo taxista. Por São Paulo e esse trânsito cretino. 
De repente, sentiu como se alguém vigiasse ele.

Ricardo tentou disfarçar o sangue que tinha em si. Não era nada grande, um pequeno corte na lateral esquerda do rosto e no braço. Estava uma noite fria e garoava de leve. Vestiu o casaco que carregava no braço desde que saiu do taxi. Já estava a cinco quadras do acidente, agora atravessava ruas olhando seus nomes, até encontrar a compatível com o endereço.
Mais duas quadras e identificou: rua Frederico Scorsatto.
Um bairro quieto para os padrões paulistas, residencial, de padrão classe média/alta. Procurou pelo número e logo encontrou - não tão logo, teve que andar mais três quadras.
Chegou lá já ofegante, suando frio. Cercado por muros altos de pedra, estava o sobrado, pouco modesto. Por via das dúvidas, esperou ali mais um pouco, nada aconteceu, apenas passaram alguns carros e motos e um homem com seu yorkshire, que ficou latindo para Ricardo.
Que coisa... Chamaram-lhe para aquele endereço, mas ele tinha acabado de chegar à cidade, mal conhecia o dono da pensão! Deveria ser algum engano, outro Ricardo... Como não foi deixado um telefone, somente o endereço, o que poderia fazer? 
Bem, não tinha muito a perder, então foi em frente e tocou o interfone.

Que paranóia, Mikael olhava para os lados, ofegante e com terrível dor de cabeça. Até que sentiu uma mão no seu ombro. Repeliu-a brutamente e saltou do banco. Ficou surpreso com quem viu: era o senhor que tinha roubado sua carteira. Agora parecia sóbrio, estava sério.
- Hijo de puta! Foi você que roubou minha carteira.
- Calma, meu filho. Suas coisas estão todas aí.
- E esse maldito endereço?! Que porra é essa?!
- Devo te dizer - falou com calma - que você está bem longe. Aceita uma carona?
Mikael ficou indignado e deu as costas para o velho, já preparado para fugir caso fosse surpreendido novamente.
- Você vai apagar logo logo, melhor vir comigo. - disse mais uma vez.
O jovem argentino ficou surpreso mais uma vez. Voltou-se sério.
- Por quê? Você quer morrer?
Ele riu.
- Você quer continuar matando?
- Matando?
- Eu sei que você sabe. Todas essas vezes que você apaga e no dias seguintes aparecem noticias de assassinatos brutais...
- Ah, cala a boca! - Mikael sabia do que ele estava falando, mas negava inconscientemente que era ele o autor dos assassinatos.
O velho não voltou a falar, apenas ficou esperando a resposta que viria de Mikael, que já estava se afastando dali, com as mãos na cabeça, sem acreditar no que estava acontecendo.
- Você é que nem eu?
O velho não respondeu, apenas arregalou os olhos.
- E então, vamos lá?

Uma voz feminina atendeu o interfone com um "Pois não".
- Ah, oi, sou Ricardo... Correia. - antes que pudesse explicar qualquer coisa, a mulher falou que ele era bem-vindo e abriu o portão.
Ricardo foi entrando devagar. Havia um jardim na frente do sobrado, monocromático, com poucas flores, mas bem cuidado. A fachada da casa era elegante, de tons escuros. Pela grande porta de madeira, saiu uma mulher sorridente de uns 50 anos, bela e elegante.
- Senhor Ricardo Correia, que bom que veio.
- Ah... Senhora...
- Me chame de Talita.
- É que, eu acho que você deve ter se enganado, eu sou Ricardo Correia, ma acabei de chegar na cidade e nem conheço...
- É você mesmo. Ex-professor de Filosofia da UFRS, formado na mesma, foi afastado - prununciou essa palavra categoricamente, como se soubesse do que aconteceu - E passou os últimos anos no Rio de Janeiro concentrado em seu romance. Estou certa?
- S-sim - confirmou, estupefato - Mas...
- Eu sei. Eu sei o que está acontecendo contigo, e, a boa notícia... É que você não é o único. Por favor, aguarde um pouco, acredito, ou melhor, espero, que os outros cheguem.




2 comentários:

Unknown disse...

"Essa realmente é uma noite daquelas!"
Mikael olha em volta, os traficantes, os mendigos e aquele velho maldito.

- Certo, eu vou contigo mas vai ter que me responder algumas coisas antes.

O velho apenas continua olhando para ele.

- Primeiro, como me achou? Segundo, como sabe tanto sobre mim e o que esta acontecendo comigo? Terceiro, como sabia que eu ia encontrar a carteira? Quarto, o que tem nesse endereço? E por fim, qual o ser maldito nome, cansei de te chamar de velho.

Mikael sorri no final de sua frase confiante.

- E não tente bobagens, acredite eu vou notar...

Molina disse...

[Ricardo]
"Surreal" é a palavra que vem à mente de Ricardo. Ele acompanha a senhora até o que parece ser uma sala de visitas.

— Mas o quê está...
— Por favor, vamos esperar os outros. Aceita uma xícara de chá?
— Tá...

A situação toda é bizarra demais para Ricardo resistir. "Que merda tá acontecendo aqui?". A mulher volta logo depois com uma travessa e serve uma xícara de chá para Ricardo. O telefone toca.
— Um minuto, eu já volto.

"Muito bem", pensa Ricardo, "quais são as alternativas". Obviamente ela sabe quem ele é. Ele não comentou sobre seu passado para ninguém na cidade, então alguém de outra cidade deve ter passado essa informação. A família de Ricardo conhece muita gente estranha, não é impossível que a situação dele tenha se espalhado. Mas porque alguém teria interesse nele. A mulher falou sobre outros na mesma condição...
Ricardo continua analisando as possibilidades.
"Já sei!". É tão óbvio, estão tentando recrutá-lo para algum tipo de culto. Os outros provavelmente são pessoas "sem Deus no coração" ou alguma bobagem assim. Ele não tem muito dinheiro, então ela deve estar querendo que ele trabalhe para o culto. Seria um livro interessante: um jovem professor recrutado por um culto e forçado a vender água benta e incenso nas ruas de São Paulo. Seria uma experi~encia interessante. Ele tem que tomar cuidado para não ser descartado logo no começo. Se for algum culto de lavagem cerebral, ele não pode parecer muito inteligente. Se for algum tipo de ordem iniciática, ele tem que parecer inteligente.
Ricardo leva a xícara aos lábios mais uma vez. Uma idéia passa pela sua cabeça: e se eles tiverem drogado o chá?
Ricardo leva a xícara aos lábios novamente e devolve discretamente o chá em sua boca. Ele tem que tomar cuidado agora.